19/01/2021

A Rosa

Autor: João Batista Ericeira sócio majoritário de João Batista Ericeira Advogados Associados

A atriz Sofia Loren, do alto dos seus 86 anos de idade, protagoniza o filme exibido na plataforma da Netiflix, intitulado em português “Rosa e Momo”. O enredo é simples e cativante. Trata de uma idosa, egressa do campo de concentração, pela condição de judia, que se dedica a abrigar crianças desemparadas, filhas de prostitutas, enquanto as suas mães trabalham. Algumas delas são órfãs, é o caso de Momo, menino senegalês, vítima de tragédia das muitas ocorridas com barcos de refugiados africanos. Ele, abrigado pelo médico de Rosa, se dedica a pequenos furtos. O médico, em razão dos seus limites, pede que o acolha. Inicialmente rejeitado, aos poucos se estabelece relação surpreendente entre a velha senhora e o pequeno delinquente.

O filme foi lançado em momento particularmente oportuno. Nesta tormenta da pandemia, o mundo carece de amor, de carinho e solidariedade, em porções necessárias a que as pessoas possam minimizar seus sofrimentos. Todos nós, estamos e estaremos sempre sujeitos a tormentas e dores, ínsitas a natureza humana. Ser solidário é o caminho para a ética do milênio.

Nas pessoas da estória: o menino africano, a senhora judia, o comerciante muçulmano, o médico humanitário, espelham-se traços da diversidade cultural do mundo de hoje. Em todos eles, se sobressai a condição do ser humano, sujeito a tragédias, mas capaz de enfrentá-las com amor e afeto.

É a lição ou a moral da fábula contada pelo roteiro cinematográfico dirigido pelo filho da diva do cinema mundial Edoardo Ponti. Italiana, premiada com o Oscar pelo conjunto de sua obra, aparece no filme com as marcas do tempo dando inesquecíveis aulas de interpretação.

A citação da estória baseada no romance do escritor lituano radicado na França, Romain Gary, como sugere o título “Vida que Segue”, é para acentuar que a humanidade continua a sua trajetória, com o frequente aparecimento de falsas filosofias e de heróis dos pés de barro, disseminadores de mensagens conducentes a ódios raciais, ideológicos, políticos, religiosos, resultando em guerras com elevados ônus para todos os povos.

Suas explicações para o mundo e o Direito oscilam entre a racionalidade, as leis da matéria, da sociedade, esquecendo o coração de tudo, a espiritualidade, e o preceito fundamental: “amai-vos uns aos outros, como eu vos tenho amado”. Válido para todos os homens em todos os quadrantes do planeta. Se o ensinamento cristão fosse efetivamente praticado, não teríamos as guerras tribais, parciais, localizadas, mundiais, com efeitos deletérios e sequelas para toda a humanidade. Assim, como não veríamos as agressões as mulheres, aos jovens e adolescentes, aos idosos, as minorias étnicas. As agressões ao meio ambiente, motivadas pela ganância e os propósitos de lucros maiores.

A paz é irmã siamesa da Justiça. É oportuno refletir sobre a necessidade de os países, as empresas e os bancos renunciarem a juros extorsivos e ganhos absurdos. De levantar-se a bandeira da solidariedade entre os povos, dirimindo os sofrimentos dos mais pobres, dando-lhes melhor alimentação, saúde e educação.  O que as pessoas devem praticar nas relações interpessoais aplica-se aos países.

 O menino africano já estava sendo usado pela maldade do tráfico de drogas. Salvou-se pelo amor e generosidade de Rosa, a personagem interpretada por Sofia Loren, que se despojou de maquiagens, exibiu a beleza rara e natural da sua idade. Os especialistas em artes cinematográficas poderão melhor dizer, em termos críticos, o que representa a filme para o cinema. Como espectador comum, digo, o filme é excepcional sob todos os aspectos, desperta emoções positivas em quem o assiste. Nos meus limites, eu o premiaria com o Oscar.

A Rosa representa a inabalável esperança de que no final o amor triunfará.

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