21/01/2019

O Caçador Nauro

Autor: João Batista Ericeira sócio majoritário de João Batista Ericeira Advogados Associados

O Brasil de meados do século passado, sofria as dificuldades de comunicação. Poucas eram as estradas asfaltadas. O transporte aéreo acessível apenas às elites. A telefonia muito limitada, a televisão começava, o rádio terminava sendo o principal meio de divulgação. A revista “O Cruzeiro”, era a única publicação nacional. Nos estados se formavam os círculos culturais em torno de desejadas mudanças estéticas na poesia, na prosa, no romance.

São Luís do Maranhão, uma cidade acanhada de duzentos mil habitantes, mantinha hábitos provinciais da centúria anterior, o Largo do Carmo, o centro da vida política e cultural. Antônio Lopes, nos Anos Trinta, inspirou o Cenáculo Graça Aranha, congregando Josué Montello, Paulo Nascimento Moraes, Franklin de Oliveira, Odylo Costa, filho, Erasmo Dias, Manoel Caetano Bandeira de Mello.

 Josué Montello descreve o cenário: “ de minha geração literária, em São Luís, eu era o primeiro a sair da província. Antônio Lopes, mestre de literatura no Liceu Maranhense, professor da Faculdade de Direito e grande jornalista, havia-nos reunido à sua volta, sob a invocação do nome de Graça Aranha, num grêmio literário que tinha por sede o Largo do Carmo”.

O ímpeto da Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, em São Paulo, reunindo artistas e intelectuais como Guilherme de Almeida, Heitor Villa-Lobos, Mário e Oswald de Andrade, liderados, dentre outros, pelo maranhense Graça Aranha, autor do romance Canaã, não atingiu a província.

 Josué Montello refere-se a diáspora maranhense. A maioria dos intelectuais migrou para a então capital da República, o Rio de Janeiro, onde brilhavam além de Graça Aranha, Coelho Neto e Humberto de Campos. Era nossa tradição a junção da política com a literatura, como alude o jurista Rossini Corrêa, em “Atenas Brasileira”.

Todos eles ocuparam cargos políticos, ilustraram a bancada do Estado em suas representações. Em meados dos anos quarenta surge a geração 45, nela despontam Lago Burnett, Ferreira Gullar, Neiva Moreira, José Sarney, todos influenciados por Bandeira Tribuzi, filho do comerciante português Joaquim Pinheiro Gomes. Formado em Coimbra, trouxe de Portugal os influxos do modernismo e a contribuição da poética de Fernando Pessoa. No livro “Esferas Lineares” Nauro Machado lembrava: “terra de poetas, o Maranhão(...) só poderá oferecer ao mundo os nomes maiores de Gonçalves Dias (gênio), Raimundo Correia e Maranhão Sobrinho”. No Império, brilharam também nas letras nacionais os irmãos Artur e Aluísio Azevedo, Odorico Mendes, João Lisboa, Viveiros de Castro, reforçando a “Atenas Brasileira”.

A influência tribuziana se estende aos anos cinquenta e sessenta, em que desponta Nauro Machado, lançando o livro “Campo sem Base”, em 1958. Tratava-se de nova forma de sentir, de elaborar e de transmitir a poesia.  Dele aproximei-me em nossa ágora, o Largo do Carmo. Meu pai tinha lá estabelecimento comercial, morávamos nos altos.

Nas tertúlias do Largo do Carmo, no campo poético, despontavam Bandeira Tribuzi, José Chagas e Nauro Machado, nessa época, brilhavam na constelação nacional Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. Da trindade maranhense Nauro Machado era o mais moço. De uma família de tradicionais políticos maranhenses, Raul, Marcelino, Lino Machado, optou existencialmente pela poesia.  Por ela transfigurou-se e imolou-se em uma busca pessoal, mística e social, revelando-se o caçador de si e da poesia.

As impressões sobre Nauro, reúne ensaios, críticas e artigos, a fortuna crítica, como bem o diz o poeta Fernando Braga, organizados por sua esposa, a escritora Arlete Nogueira da Cruz Machado, em livro a ser lançado hoje no Auditório da OAB, às 19 hs. Ela e o filho, o cineasta Frederico Machado, convidam a todos os maranhenses.

A Academia Maranhense de Letras Jurídicas sente-se honrada em apoiar o evento, o primeiro do ano acadêmico de 2019.

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