19/02/2018

São Salvador, Bahia

Autor: João Batista Ericeira é professor universitário e sócio majoritário de João Batista Ericeira Advogados Associados

Em meados dos anos oitenta o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras-CRUB reuniu-se em Salvador, para dentre outros assuntos, tratar de temas relacionados aos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte. Integrávamos a Comissão de professores que acompanhava os seus trabalhos. Recordo percorrer com Rubens Pinto Lyra, doutor em Ciência Política pela Sorbonne, as ladeiras da capital baiana nos intervalos das reuniões, apreciando o seu casario colonial, o artesanato, as influencias afro sobre sua vasta e rica cultura. Fomos ao Pelourinho onde se localizava a Fundação Jorge Amado, encarregada de divulgar a obra do romancista, tendo sempre como cenário de fundo a sua Bahia.

Na semana anterior ao Carnaval de 2018, estive em Salvador, assisti a inauguração Casa do Carnaval, um Museu da festa popular e de outro Museu, o Sacro, da Igreja do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo, célebre pela sua escadaria, onde foram filmadas as cenas do “Pagador de Promessas”, filme de Anselmo Duarte, o único brasileiro premiado com a “Palma de Ouro” pelo Festival Internacional de Cannes, na França. A cidade fervilhava carnaval, que lá dura uma semana antes, uma durante, e uma depois dos festejos momescos.  Começara o fuzuê para usar o baianês. Tive a oportunidade de em companhia de Rossini Correa, Raimundo Palhano e Bento Leite, rever João Roma, J.R., como os baianos o chamam. O conhecemos um jovem entusiasmado, líder dos movimentos do Instituto Tancredo Neves, a quem prestávamos consultorias. Agora, exerce as funções de chefe de gabinete do prefeito de Salvador, ACM Neto, considerado um dos mais bem avaliados das capitais do país.

J.R. dispensa a Rossini amizade afetuosa, considerando-o seu orientador intelectual. Por conta dessa relação, tivemos assessores seus à nossa disposição, que nos mostraram alegremente o Subúrbio 360, um projeto educacional reunindo modernas estratégias pedagógicas. Com reforço para os alunos da rede municipal, contempla assistência médica, esportes, lazer, e aprendizado de novas tecnologias e inovações.   O Secretário Municipal de Educação Bruno Barral, convida-nos para a aula inaugural da rede escolar, um primor de organização com a presença do Prefeito, para denotar a priorização que a gestão faz da educação. Os indicadores de aproveitamento e rendimento escolar que apresentou são excelentes. Lhe fiz uma pequena blague: sendo parente da Condessa, não poderia ser diferente.

Com o clássico carnavalesco “Chame Gente” a guitarra de Armandinho celebrava a inauguração do Museu documentando a história do Carnaval contando com a presença dos artistas da terra, Daniela Mercury, Margarete Menezes, Paulinho Boca de Cantor, dentre outros componentes da estelar constelação dos artistas baianos, significando a integração indispensável entre a educação e a cultura popular.

Naquele clima recordei a minha passagem pela cidade nos anos oitenta, recordo que comentei com o Rubens, no Maranhão temos acervo colonial maior, mas não soubemos explorar nosso potencial turístico. Falta-nos fazer a priorização da cultura afro, dos seus valores, dos elementos da nossa história. Os artistas da Bahia, Dorival Caymmi, Jorge Amado, Caetano Veloso contribuíram para dar a boa terra o potencial tão bem aproveitado pelos gestores públicos.

No final, passamos pela Casa do Rio Vermelho, residência do casal Jorge Amado e Zélia Gattai, é uma celebração a vida e obra dos dois. Agora museu, registra em vídeos, livros, objetos, a trajetória do escritor, que tinha como fonte principal de sua obra, o povo da Bahia. Recordo que disse naquela ocasião ao Rubens: o Jorge Amado é um escritor querido pelo seu povo.

Na saída tiramos fotografias com Jorge Amado Neto, citado pelo romancista de forma bem-humorada no livro “Navegação de Cabotagem” à página 57: “ Meu neto Jorginho, filho de Rízia, aquela mãe! Caçula de João Jorge, às vésperas de completar seis anos, constata a coincidência de nomes, parece-lhe estranha, me interpela no desejo de entender o porquê: _ Vô você também se chama Jorge_ como eu?

Jorginho hoje trabalha na Administração da Casa do Rio Vermelho, é professor de Direito Constitucional, e tem a marca da simplicidade de sua família, além da amabilidade no trato e na interlocução com as pessoas. 

Havia mais para ver e conhecer na Bahia, mas o sol se punha e o avião nos esperava. Lembrei então dos versos de Paulo da Cunha: “ São Salvador, Bahia, a tarde morria devagar. ” Tínhamos pressa. Estou certo, todavia, que além da magia, a Bahia tem muito a nos ensinar.

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