Julho foi escolhido por ser o mês da Mulher Afro-Latino Americana e Afro-Caribenha, dando visibilidade à luta, às ações, promoção e valorização do debate e da identidade da mulher negra brasileira. Muito se sabe da grande gama de escritores que nosso país abriga, hoje, porém, vamos celebrar aquelas cujo talento e contribuição social vem sendo reconhecidos somente ultimamente. Escritoras negras que trazem representatividade e conhecimentos pessoais na sua escrita.
A população negra constitui, hoje, a maior parcela numérica da sociedade brasileira, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2014, os negros compunham 54% da população brasileira. Mais do que isso, possui uma importância enorme para construção do Brasil.
A cultura negra, assim como a escravidão, devem ser estudadas e aprofundadas e a construção de espaços de memórias se faz promissora e essencial para que a história não repita e marginalize as matrizes africanas e seus descendentes.
A representação do negro na literatura brasileira reforça diversos estereótipos nas obras, o que traz um desserviço a essa parcela da sociedade, que já, por muito tempo, é tratada com descaso e desprezo. A presença de personagens negros na literatura, quando há, dá-se, na maioria das vezes, em papéis secundários de coadjuvantes ou de vilões. Representantes negros no protagonismo não são muito encontrados e, quando são, estão quase sempre presos a ambientes predeterminados.
Você já leu alguma autora negra?
Tenho orgulho de dizer que sou da terra da primeira mulher a publicar um romance no Brasil, ela era negra e nordestina. Eu apresento a vocês, Maria Firmina dos Reis, nasceu em São Luís, no Maranhão, e escreveu “Úrsula”,em 1859, com o pseudônimo de “uma maranhense”. O livro se transformou em um instrumento de crítica por meio da humanização de personagens escravizados.
Os dados mostram que autores, e principalmente, as autoras negras acabam esquecidos na produção literária brasileira.
Vamos, então, celebrar o talento dessas mulheres. Fiz uma seleção de 11 livros escritos por autoras negras que você deveria conhecer:
1-Mulheres, raça e classe, de Angela Davis;
2-Olhares Negros, de Bell Hooks;
3- Irmã outsider: Ensaios e conferências, de Audre Lorde
4- Quem tem medo do feminismo negro? - Djamila Ribeiro
5- Eu sei por que o pássaro canta na gaiola - Maya Angelou
6- Sejamos Todos Feministas - Chimamanda Ngozi Adichie
7-Minha História - Michelle Obama
8- Quarto de Despejo, Carolina Maria de Jesus
9- Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil (Consciência em Debate) de Sueli Carneiro
10- Quando me descobri negra, de Bianca Santana
11- Por um feminismo afro-latino-americano’, por Lélia Gonzalez
A lista é simbólica, claro! O número de boas escritoras é extenso, mas essa pode ser uma ótima oportunidade de expandir horizontes.
Contudo, essa produção literária ainda encontra desafios em ser incorporada ao cânone e é continuamente relegada à marginalidade. Assim, há uma dificuldade cabal em desfazer esses estereótipos e em veicular uma literatura comprometida com a representação da população brasileira como um todo.
A Literatura Afro-brasileira precisa ser mais lida, divulgada e estudada. As escolas, universidades, comunidades precisam conhecer melhor essa riqueza de Literatura que está crescendo a passos largos, mas a imunda mídia elitista finge que não existe. Marchemos contra o silêncio e a resistência das chamadas "grandes editoras".
Construir memórias é mostrar que a dimensão da pessoa negra é muito maior, uma memória feita de lembranças, cultura e, acima de tudo, humanidade.
Leiam mulheres negras! Leiam mulheres negras!
Espero que este artigo tenha sido útil. Eu sou Erika Verde, advogada trabalhista, engajada na luta antirracista e membra da Comissão da Verdade Negra no Brasil, OAB/MA e membra da Comissão Nacional de Direitos Sociais, Diversidade e Inclusão da ABA